Imagem e Ideologia: Filosofia-Teoria Política-Psicanálise

Colóquio Internacional
9 Dezembro 2020, 10h00 – 16h30 (GMT + 0)

Vivemos a época de uma tempestade de imagens.
As imagens, que antes nos ofereceram o poder de moldar e interpretar o mundo, agora adquirem um poder imprevisto sobre nós. Se as imagens pré-históricas eram caracterizadas por uma certa autonomia mágica, sua própria esfera de ação, inexplicáveis ​​para os que viviam no mito, as imagens técnicas, calculadas digitalmente, se revelam como imprevisíveis tiranos de nossos muitos mundos individuais e da realidade comum.
As imagens que antes libertavam os humanos da realidade bruta, ganharam vida própria e exercem agora um cativeiro mais brutal. E mesmo aqueles que se apoderam das novas imagens e espaços de imagens para projetar suas doutrinas em uma massa de seguidores desinformados ou pré-formados, que os tornam seguidores e instrumentos de uma certa ideologia e visão de mundo, são prisioneiros dessas mesmas imagens de mundo (Weltbilder).
O humano moderno, ocidental-europeu, só quis acreditar no que podia perceber com os seus olhos, as suas lentes ópticas e através de uma infinidade de produções de imagens. Esse entusiasmo se tornou impossível hoje. Não obstante, as imagens técnicas, animadas pelas discursividades ideológicas gerenciam a fantasia inconsciente e se constituem também como produtos da venda da força do trabalho da imaginação, que é agora destinada a fornecer imagens para o consumo.
E, apesar do controle que leva à previsibilidade das formas de interpretar a si e o mundo, efeitos imprevistos tem sido cada vez mais percebidos e discutidos acerca da incidência das imagens pré-moldadas na infância e no infantil e também efeitos de anestesiamento e indiferença perante as imagens. A sociedade tecno-industrial vive, mais do que nunca, num “nexo de cegueira” (Verblendungszusammenhang) abrangente, cegada pelas imagens, suscetível a uma miríade de visões de mundo e infectada por ideologias recorrentes.
A captura do olhar em seu próprio ponto cego e o esvaziamento simbólico da imagem impedem que as imagens se desvinculem da instantaneidade de consumo e que adquiram força para gerar reflexões que possibilitem mudanças paradigmáticas.

 

Marc Lenot (Investigador Independente/França) — Ausência e experimentação fotográficas: para resistir a avalanche das imagens, deve combater um aparelho e seus programas

Em frente da avalanche das imagens, uma reação é a abstenção, a recusa de fotografar, ou ao menos de produzir imagens, uma ausência fotográfica. Mas esta profusão de imagens só se pode compreender no âmbito do aparato fotográfico, onde o fotógrafo é só um funcionário do aparelho, segundo a tese de Vilém Flusser (Filosofia da Caixa Preta). Alguns fotógrafos, para resistir ao aparato e a esta profusão, desfazem os programas e se tornam experimentais.

Imagem e Ideologia: Filosofia-Teoria Política-Psicanálise